HISTÓRIA DA RAÇA NORDESTINO       

Luiz Miranda - Especialista em cavalos

 

Conhecer a história da formação do cavalo ibérico é fundamental para entender o cavalo no Brasil e por extensão o cavalo Nordestino. A nossa pesquisaremete mais de 4.000 anos! Conhecê-la é muito importante porque dela se retiram ensinamentos, evitando a repetição de erros cometidos no passado.Mais do que qualquer outro animal doméstico, o cavalo esteve presente em todos os aspectos da vida do homem: alimentação, viagem, guerra, esporte e lazer. Durante séculos e até à revolução industrial, o cavalo foi a “tecnologia de ponta” das civilizações. Com a reforma dos cavalos como máquina de guerra e mais recentemente como meio de transporte e ajuda na agricultura, o cavalo torna-se cada vez mais um animal utilizado no desporto, lazer e simplesmente como companhia.A grande descoberta da domesticação do cavalo é, sobretudo valorizada como fusão entre o homem e o cavalo, dois corpos que funcionam em perfeita sintonia. A domesticação veio resultante da utilização das éguas como fornecedoras de leite. As mães levavam os filhos para as lidas de catação de frutas e junto levavam as éguas para prover o leite, já que os animais forneciam até 20 litros de leite por dia, em mais de 20 ordenhas por dia. Nesse processo de contato diário as éguas se tornavam mansas e com o tempo eram utilizadas para transportar os filhos e os alimentos coletados.

A domesticação do cavalo é requisitada pelos asiáticos por volta de 4.500 anos A.C. e pelos ibéricos 6.400 mil anos A.C., embora a alguns milhões de anos exista uma relação de caça homem cavalo.

O uso da cavalaria como arma de guerra na Península Ibérica é muito anterior ao que se tem notícia no resto do mundo antigo, datando de segundo milênio A. C. Não há provas do uso do cavalo de sela na Antiguidade; na iconografia da Babilônia e do Egito antigos, só aparecem cavalos engatados, puxando carros de combate.

Sabe-se que antes mesmo do período neolítico já se usava o cavalo domesticado na Península Ibérica. Achados arqueológicos, como as tumbas de guerreiros no sul da Península, demonstram terem existido, na idade do Bronze, grupos que combatiam montados, enquanto os infantes carregavam alabardas, que são armas próprias para derrubar cavaleiros.

Homero na Ilíada (Canto XVI) faz menção aos Cavalos Ibéricos, velozes como o vento e filhos da Harpia Podargo, fecundada pelo vento Zephir quando pastava pelos prados das margens do Rio Oceano (o Atlântico). Freios, ferraduras e armas de ferro datando das invasões celtas (séc. X e V a.C.) comprovam a continuidade do uso da Cavalaria na Península Ibérica. Tucidides e Xenofonte relatam que um grupo de cavaleiros Ibéricos foi mandado por Dionísio de Siracusa em auxílio aos espartanos na guerra do Peloponeso (séc. IV a.C.)

Na invasão da Espanha pelos Cartaginenses (séc III a.C.) os cavalos ibéricos infligem pesadas perdas aos invasores, morrendo Amílcar, pai de Aníbal. Este, quando parte para a Itália, leva um numeroso contingente (12.000 cavalos) da cavalaria ibérica. Estrabão, relatando estas campanhas, considera os lusitanos exímios cavaleiros, que atingiam "eminências abruptas onde cavaleiros de outras nações não se aventuravam". Asdrúbal, irmão de Aníbal, levou consigo cavalos ibéricos para Cartago.

O cavalo que aqui na América se originou e posteriormente se extinguiu, para cá retornou, sob a forma do cavalo ibérico trazido pelos conquistadores espanhóis. Esse retorno deu-se inicialmente na ilha Espanhola (S. Domingo), com os primeiros cavalos e éguas que Colombo trouxe na sua segunda viagem em 1493. De lá, espalharam-se pelas ilhas de Porto Rico, Cuba e Jamaica e delas para América Central e Colômbia, de onde passaram para o Peru, Equador, Bolívia e Chile. Chegaram ao México com Cortez e daí expandiram-se pelo oeste da América do Norte. Na América do Sul chegaram em 1535 trazidos por Pedro Mendoza. Por outro lado, os cavalos abandonados, quando da destruição de Buenos Aires pelos índios, constituíram a base de numerosas manadas dos cimarrones ou baguales, que por sua vez, deram origem ao cavalo Crioulo. Cabeza de Vaca em 1541, trouxe cavalos para o Paraguai, desembarcando na costa brasileira, provavelmente em Santa Catarina.

Todas as raças cavalares formadas no Continente Americano são direta ou indiretamente descendentes dos Cavalos Ibéricos. Nos Estados Unidos, o Mustang ou Mesteño, o Quarto de Milha, o Appaloosa, o Seminola e o Cayuse ou Indian Poney. Na América do Sul, o Crioulo, que salvo modificações do meio ambiente, é mesmo cavalo do Norte ao Sul do Sub-Continente. O Mangalarga Marchador, o Mangalarga e o Campolina da mesma forma.

No período imperial, como atestam Políbio e Tito Lívio, os cavaleiros ibéricos foram terríveis adversários para as legiões romanas durante guerras que duraram mais de 200 anos.

Os romanos, como relata José Monteiro:

"... nunca se notabilizaram pela sua cavalaria, sempre batida pela cavalaria ibérica... A própria tática de combater e a equitação da Península são adotadas pelos romanos. Grande reputação como cavaleiro e domador de cavalos teve o lusitano Caio Apuleio Diocles... que viveu no Século III da nossa era e teve uma estátua em Roma, no Campo de Marte".

Segundo o Ruy d’Andrade, hipólogo, as estátuas de Balbo, de Calígula (com Incitatus, o cavalo de altos andamentos) e mais tarde a de Marco Aurélio (que era espanhol) são sinais evidentes do cavalo ibérico que usavam os romanos.

Os bárbaros que ocuparam a Ibéria (409) não fizeram desaparecer a civilização romana e a criação cavalar continuou. Isidoro nas "Laudes Hispanie" diz que os cavalos ibéricos eram os melhores do mundo.

Romanos e cartagineses e todos os demais invasores trouxeram animais da Itália, Líbia, Numídia e Mauritânia e de outras regiões nas sucessivas incursões que realizaram na Península Ibérica.

Segundo o historiador Ruy d’Andrade:

"... a calma e o descanso que gozou a Espanha desde 100 anos antes de Cristo até cerca de 500 d.C. representam um período de cerca de 600 anos, que acrescido de mais 250 anos do período Godo (450 a 700 d.C ) completa um total de mais de 800 anos, tempo mais que suficiente para a formação e fixação de uma raça plenamente adaptada ao meio."

Na invasão dos árabes, as versões são várias e contraditórias, como atesta o Dr. José Monteiro:

"... a invasão da Península pelos muçulmanos se fez com diminuta cavalaria...quase que exclusivamente bérbere, outros avaliam-na em 17.000 cavaleiros e outros em ainda 30.000".

Eu acredito na hipótese de 12 mil cavalos de origem berbere sendo apenas 7 cavalos árabes que pertenciam aos generais árabes. Ainda é importante lembrar que na guerra se usava égua por serem mais calmas e não relinchavam à noite, delatando suas presenças.

Durante a longa dominação moura (711 a 1492) houve nova introdução de sangue pelas importações africanas de Marrocos. Todavia, não havendo na época grandes diferenças raciais entre os cavalos do Norte da África e os da Península Ibérica, essa nova adição sanguínea, como as anteriores, foi absorvida sem modificar o tipo racial homogêneo autóctone. Sabendo-se, contudo que o cavalo ibérico encantou os novos invasores, continuando durante a ocupação moura a desenvolver-se a criação na Península Ibérica e havendo grandes exportações de animais para a África e o Oriente.

A Idade Média foi outro período de afirmação do valor do cavalo ibérico, usado nas Cruzadas por guerreiros como Ricardo Coração de Leão (1119)

Durante a Renascença, os cavalos ibéricos se destacaram na Itália sob a dominação de Ginnetes e Villani, que eram provavelmente o resultado de cruzas com cavalos vindos de França, Flandres e Alemanha. Essa influência mais se acentuou em Espanha ao tempo de Carlos V, Felipe II e Felipe III, que teriam introduzido o cavalo Napolitano.

Nos séculos XVII e XVIII procurou-se obter cavalos de maior porte e poder para levar cavaleiros vestidos de pesadas armaduras metálicas. A partir de 1700 inicia-se também a procura por animais de tiro, pois, as estradas já eram melhores, possibilitando, sobretudo em França e Espanha a utilização de carros e carroças.

Data do século XVIII o início da grande diferenciação hoje evidente entre os cavalos espanhóis e portugueses. Como relata José Tello Barradas:

"... Embora houvesse vários fatores a condicionar a diferença entre as que hoje se consideram raças Andaluza e Lusitana, creio que o que mais pesou foi o aparecimento e total implantação do toureio a pé em Espanha... que surge nos primórdios do Século XVIII..."

Completa Arsênio Raposo Cordeiro:

"O abandono do toureio a pé na Espanha obriga a uma nova seleção do cavalo... que passou a ser usado como cavalo de recreio e animal de tiro ligeiro, onde a exuberância dos seus movimentos mais altos e menos progressivos era bem flagrante. Entretanto em Portugal, com a continuidade do toureio a cavalo, foi-se dando ao cavalo Lusitano uma mais cuidada seleção, no sentido de produzir um animal com reais potencialidades para a prática do toureio, onde não são anímicas força muscular e andamentos progressivos, com capacidade de reduções e aceleramentos bruscos."

A partir do Século XIX, com o advento da mala postal, melhoria das estradas e introdução das ferrovias, o cavalo de sela conheceu relativo declínio, acentuado no século seguinte, principalmente após a Grande Guerra (1914/18), pelo automóvel e pela injeção dos sangues inglês e árabe nas remontas militares.

"Os cavalos ibéricos foram na própria Península vítimas dessas modas. Delas só escaparam algumas manadas de criadores vernáculos e conservadores, vivendo de realidades, que não quiseram saber de novidades." Escreveu o Ruy d’Andrade

A força da raça mostrou-se superior a todos esses acidentes históricos e novidades, por maiores ou piores que tenham sido essas incursões sanguíneas exógenas ou modismos, o cavalo ibérico sempre acabou por triunfar e assiste-se agora, em todo o mundo, a um renascimento vigoroso da procura por esses animais fabulosos e a conseqüente valorização mercadológica da raça.

Assim como os poucos milhares de cavalos de qualidade inferior que os bárbaros do Séc.V trouxeram não modificaram uma massa de mais de meio milhão de cavalos da Península Ibérica daquele tempo, também a introdução do sangue árabe nos séculos VII a XV ou do sangue do norte trazido pelo modismo dos séculos XVIII e XIX não tiveram influência sensível.

Como a colonização americana demonstrou, manadas de éguas criadas a campo com cavalos soltos, revertem ao tipo original e "o espúrio desaparece, expulso pela inadaptabilidade" ( Ruy d’Andrade).

Por essa razão conservou-se puro o Cavalo Ibérico, apesar de variantes de tamanho, de tipo e, sobretudo de uso, nas diferentes regiões de Espanha e Portugal. Em 1967 fundou-se o Livro Genealógico Português de Eqüinos (Stud Book), cuja manutenção ficou a cargo da Associação Portuguesa dos Criadores do Puro Sangue Lusitano.

A península ibérica tinha três ecótipos bem definidos que podemos reconhecer como raça o Sorraia, o Garano e o mais recente deles o Lusitano ou Andaluz. Depois da invasão muçulmana surgiram o Bérbere (ou Barbo) e berberisco muito parecido com os cavalos existentes na península que, de alguma forma, interferiu na formação do cavalo ibérico

São estes os cavalos:

CAVALO SORRAIA é um tipo de cavalo de origem portuguesa, raça única no Mundo, redescoberta em 1920 por Ruy d'Andrade e cujos indícios remetem para a zona de confluência entre as ribeiras de Sor e da Raia (daí o seu nome), charneca de Coruche, onde haveria uma extensa população, popular entre criadores de gado para trabalhos do campo.

Assemelhando-se bastante ao Puro sangue lusitano, de corpo compacto e linhas pré-históricas, crê-se, no entanto, que o Sorraia pode originar de uma linhagem independente (ou seja, uma raça pura, Equus caballos ssp. Sorraia), mesmo ainda não estando concluída a sua avaliação genealógica.

Embora seja extremamente forte, resistente e de temperamento calmo, a sua população está hoje muito reduzida – aproximadamente 180 indivíduos – existindo somente em locais para criação e manutenção da raça, principalmente em Portugal e na Alemanha. Assemelha-se ao tarpan, antigo cavalo selvagem europeu.

História

Esta raça esteve, no início do século XX, à beira da extinção. Tal não aconteceu graças ao empenho de Ruy d'Andrade, que pegando num dos únicos núcleos sobreviventes – um conjunto de três ou quatro éguas e alguns machos – logrou através de sucessivos cruzamentos e à custa de uma enorme consanguinidade obter de novo o protótipo da raça pura, evitando assim a extinção.

Pensa-se que os cavalos Sorraia constituem o fundo primitivo dos cavalos meridionais da Península Ibérica. Este grupo de animais reunido por Ruy d'Andrade, era, como ele próprio assinalou, afim do grupo antigo das planícies do Guadalquivir, da ria de Huelva, do Algarve e do Sado, sendo de todos os que existiram o que se conservou mais típico e primitivo.

Segundo o Ruy d'Andrade, ficou demonstrado que na Península Ibérica se conservou um núcleo de cavalos primitivos derivados dos selvagens e que estão na base do cavalo Andaluz e Lusitano, que existiu na Península Ibérica desde um período de pelo menos 5 milénios A.C. e que por cruzamentos de diversas origens se aperfeiçoou para uso na guerra durante toda a Antiguidade e Idade Média. Segundo o mesmo autor, conclui-se assim que este cavalo é o representante originário de todos os cavalos posteriores de Espanha e da América, e base de todos os cavalos de desporto de toda a Europa nos últimos séculos.

Características

Segundo estudos efectuados pelo Dr. Ruy d'Andrade, o fenótipo da raça possui as seguintes características:

  • Corpo sólido e forte medindo à cernelha 1,46m nos machos e 1,43 nas fêmeas;
  • Tronco em forma de tecto descaído aos lados de uma seca e alta coluna lombar, saliente, recta, não enselada, com o ligamento da cauda baixo, que nunca se levanta em trompa como o cavalo árabe;
  • Pescoço curto, cabeça relativamente grande, estreita, com o olho relativamente pequeno, oblíquo e encerrado no alto de uma cara larga;
  • Ventre avultado – como convém aos animais que vivem toda a vida do pasto grosseiro e pouco nutritivo, especialmente no Inverno, apresentando-se nesta altura o pêlo muito longo para se defender do frio.
  • Cor da pelagem cinzenta ou baia, apresentando zebraduras e risca de mulo.
  • O CAVALO GARRANO é a raça de cavalos portuguesa mais antiga, estando presente no Norte de Portugal desde tempos pré-históricos. Pode inclusivamente ser encontrado em pinturas rupestres um cavalo muito semelhante ao Garrano, o que nos leva a pensar que de que este pônei sofreu poucas alterações ao longo do tempo.

Os Celtas, povo do Norte da Europa, deixaram algumas marcas no Norte de Portugal. Traziam com eles um pequeno cavalo muito parecido com o nosso Garrano. Hoje, o Garrano é considerado um cavalo de Tronco Celta  (Equus caballus celticus), ao qual pertencem também:  Asturcón (Astúrias), Pottock (País Basco), Pura Raça Galega (Galiza), Exmoor, Dartmoor, Higland, Connemara e Shetland (Reino Unido).

No passado podia ser encontrado por todo o país, atualmente encontra-se na região de Minho e Trás-os-Montes. Devido ao baixo número de exemplares, o Garrano é considerado uma espécie ameaçada de extinção. Pode ser observado em estado semi-selvagem no Parque Nacional da Peneda Gerês, Serra da Cabreira, Serra Amarela, Sta. Isabel (Teraas de Bouro), Outeiro (Viana do Castelo) e Serra de Arga (Ponte de Lima).

“Garrano” deriva de "gher", que significa "baixo” ou “pequeno" e que originou a palavra "guerran" que significa cavalo em galego.

Durante muitos anos viveu em estado semi-selvagem, sendo utilizado em trabalhos agrícolas, transporte e sela pela população do Norte.

Origem Histórica

Ao longo dos tempos, e apesar de ser um cavalo muito antigo, o Garrano tem conservado a sua morfologia. Segundo alguns autores, a origem do Garrano teria fortes raízes do cavalo de tipo bérbere, devido ao perfil reto da cabeça observado em alguns exemplares, e a sua expansão teria acompanhado as invasões bárbaras. Podemos deduzir que o Garrano existe na Península Ibérica desde o Paleolítico, e aí se conservou até hoje. O Garrano atual não se distanciou muito dos seus antepassados pré-históricos, tanto genética como morfologicamente. Para tal terão contribuído certamente o isolamento das suas regiões de criação, bem como a forma de criação em liberdade que tem sido desde sempre utilizada e que lhes permitiu, através da selecção natural, manter as suas características de excepcional adaptação ao habitat montanhoso.


Características Gerais da Raça

O Garrano é um cavalo pequeno, de sólida estrutura física e com características muito próprias que conserva desde há longos tempos.

Nos locais onde podem ser encontrados os exemplares mais puros (regiões montanhosas do Alto Minho, Trás-os-Montes e Galiza), criados em regime de liberdade e num estado semi-selvagem, verifica-se uma perfeita concordância da sua morfologia com a caracterização da raça.
 

Tipo – perfil reto, por vezes côncavo. Animais de corpo atarracado, penicurtos de sólida constituição óssea. O seu peso rondará entre os 150 Kg e 200 Kg. O pêlo de inverno dá-lhe o aspecto ursino.


Pelagem – castanha comum, podendo tender para o escuro; quase sempre sem sinais. Mais clara no focinho puxando para o bocalvo, por vezes também mais clara no ventre e nos membros. Topete farto. Crinas pretas, tombando para ambos os lados. Cauda também preta, com borla de pêlos encrespados na raiz.


Cabeça – fina, mas vigorosa e máscula. Nos machos é grande em relação ao corpo, proporcionalmente maior que nos cavalos. Perfil reto, por vezes côncavo. O crânio insere-se sempre na face com grande inclinação, de forma a que a parte superior da fronte é convexa de perfil; a crista occipital é pouco saliente em relação aos côndilos. Orbitas salientes sobre a fronte, transversalmente plana. Os olhos são redondos e expressivos. Narinas largas. Orelhas médias. Os dentes são característicos de tipo céltico. As ganachas são fortes e musculosas. A expressão geral é de vivacidade e coragem.


Pescoço - bem dirigido e musculoso, mas curto e grosso, especialmente nos garanhões.


Cernelha – baixa e pouco pronunciada.


Dorso – reto.


Garupa – forte, horizontal ou ligeiramente descaída, quadrada, com ancas grossas e salientes, com inserção baixa da cauda que é comprida e farta.


Costado – ligeiramente arredondado, espádua pouco inclinada e mais longa que curta.


Coxa – dirigida e musculada.


Membros – fortes, curtos e grossos, com boletos muito resistentes e bem guarnecidos de machinhos, quartelas curtas e pouco inclinadas, cascos cilíndricos e muito duros. Em geral os membros são deficientemente aprumados, o que é mais notório nos animais estabulados devido à deficiente higiene das camas.


Altura – média ao garrote nos animais adultos: 1,20 m (o critério de admissão atual é 1,35 m máximo).

CAVALO LUSITANO OU ANDALUZ - é uma raça de cavalos portuguesa, intimamente relacionada com o cavalo espanhol andaluz. Ambos são chamados cavalos ibéricos, como  raças ambas desenvolvidas na Península Ibérica, e até aos anos de 1960  eram considerados uma única raça, sob o nome de Andaluzia. Os cavalos eram assim conhecidos por estarerm presentes na Península Ibérica, já em 20.000 aC, e por 800 aC, a região era famosa pelos seus cavalos de guerra. Quando os muçulmanos invadiram a Península Ibérica em 711 dC,  trouxeram cavalos Bérberes , que foram cruzados com os cavalos nativos, o  que deu num cavalo que se tornou útil para a guerra, dressage e toureio. Em 1966, os livros genealógicos dividiram o cavalo portugués e espanhol, o da estirpe portuguesa do cavalo ibérico foi nomeado o Lusitano, da palavra Lusitânia, o nome romano para Portugal. Existem três principais linhagens na raça hoje em dia, e as características diferem ligeiramente entre cada linha. Há também a raça do Lusitano Alter Real, criados apenas Coudelaria de Alter.

Os cavalos eram conhecidos dos seres humanos no que é hoje a Península Ibérica, já em 25.000 a 20.000 aC, como mostra pinturas rupestres na área. Entre os cavalos selvagens locais originalmente usados pelos seres humanos eram os ancestrais prováveis do Cavalo Lusitano moderno, como os estudos comparando o DNA de cavalos antigos e modernos indicam que o moderno "Lusitano C" grupo contém linhagens maternas também presentes em cavalos selvagens ibéricos desde o período Neolítico antigo. Estes cavalos antigos foram usados para a guerra, com evidências claras de sua utilização pelos fenícios cerca de 1100 aC e celtiberos por volta de 600 aC. Acredita-se que esses invasores também trouxeram cavalos , contribuindo com sangue estrangeiro para ancestralidade das raças modernas Ibéricas. Por volta de 800 aC, uma aliança conhecida como Celtiberos foi formada pelos Iberos e Celtas, daí em diante os cavalos criados nesta área eram conhecidos como cavalos de guerra. Xenofonte, escreveu cerca de 370 aC, admirava o as técnicas de equitação usadas pelos cavaleiros ibéricos na guerra, conseguido possivelmente em parte pelos seus cavalos ágeis. A lenda alega que as éguas da área eram filhas de vento (daí a sua espantosa rapidez, que repercutem nos seus potros), e uma hipótese moderna sugere que a ligação entre seres humanos e os cavalos ibéricos foi a inspiração inicial para o Centauro, que se acredita ter vindo da área do rio Tejo. Mais tarde, as invasões por cartagineses e romanos resultou na criação por parte dessas civilizações de quintas que criavam cavalos da cavalaria para o exército romano

Alguns historiadores acreditam que a raça é a resultante do cavalo autóctone da peninsula com a infusão do sangue berbere introduzido pelos muçulmanos invadiram a Península Ibérica em 711 d.C. O cruzamento entre estes ecótipos produziram um cavalo de guerra superior até mesmo em relação ao cavalo ibérico original, e foi esse novo tipo de cavalo que os conquistadores introduziram nas Américas. É o cavalo de guerra ibérico, este antepassado do Lusitano foi utilizado tanto no campo de batalha como nas principais academias de equitação em toda a Europa. As touradas a cavalo e exibições de arte equestre do ensino médio.

Estudos do DNA mitocondrial do cavalo moderno Andaluz, em comparação com o cavalo Berbere do Norte de África, mostram  evidências que os cavalos Berberes e Ibéricos atravessaram o Estreito de Gibraltar em cada sentido, e foram cruzados entre si, e assim cada um influenciou o outro em linhagens maternas. Enquanto o  historiador Português Ruy d'Andrade coloca a hipótese de que a raça Sorraia antiga era um ancestral das raças sul ibéricas, incluindo o Lusitano, estudos de genética utilizando DNA mitocondrial mostram que o Sorraia é parte de um conjunto genético que é amplamente separado  da maioria deas raças ibéricas. Uma linhagem materna é compartilhada com o Lusitano, no entanto, linhagens Sorraia em raças ibéricas são relativamente recentes, datando da Idade Média, fazendo o Sorraia um improvável ancestral pré-histórico do Lusitano.

Antes dos tempos modernos, as raças de cavalos em toda a Europa eram conhecidos principalmente pelo nome da região onde eles foram criados. O Lusitano leva o nome de Lusitânia  um nome romano para a região que hoje é Portugal. Um cavalo muito semelhante, a Andaluzia espanhola, originalmente descritos os cavalos de qualidade distintos, que vieram da Andaluzia, Espanha. Algumas fontes afirmam que o andaluz eo Lusitano são geneticamente mesma raça, e a única diferença é o país em que os cavalos individuais nascem. O Lusitano é também conhecido como o Português, Peninsular, Nacional ou a cavalo lusitano Betico.

Até agora acreditava-se que a primeira domesticação de cavalos teria ocorrido há 4200 anos a partir de cavalos selvagens das estepes entre a Ucrânia moderna e o Cazaquistão. Mas cientistas propuseram-se a descobrir como é que a partir destas evidências começaram a surgir cavalos domesticados noutras regiões do mundo.

Neste sentido, uma equipa de cientistas de Espanha, Dinamarca e Suécia colocaram duas hipóteses: Será que os cavalos domésticos se espalharam a partir desta área para o resto da Eurásia ou a domesticação dos cavalos foi um processo multi-regional que ocorreu várias vezes em diferentes locais?

Para encontrarem respostas sobre o surgimento de cavalos domésticos na Península Ibérica, os cientistas basearam-se em análises de estudos publicados anteriormente e, principalmente, em análises ao DNA mitocondrial de amostras de cavalos ibéricos de diferentes épocas da história, nomeadamente, do Neolítico Ibérico Inicial, da Idade do Bronze e da Idade Média.
Com base nestas análises, os cientistas comparam os resultados das mesmas com mais de mil sequências de ADN de cavalos modernos de diferentes raças ibéricas e não ibéricas.
«Análises anteriores ao DNA mitocondrial dos cavalos modernos apontavam para o haplogrupo D1 como o grupo mais provável envolvido numa ocorrência de domesticação independente, talvez na Ibéria ou no Norte de África», explica Anders Götherström, um dos investigadores principais do projeto, do Departamento de Biologia Evolucionária da Uppsala University, na Suécia.
Mas os resultados, publicados no jornal científico Molecular Ecology, revelam que o processo de domesticação terá ocorrido há mais tempo do que se pensava, há 6200 anos, no Neolítico Ibérico Inicial. Uma indicação que surge graças às análises realizadas ao cavalo Lusitano de grupo C.

«O Lusitano C é um pequeno grupo constituído apenas por cavalos modernos de origem Ibérica. Descobrimos que as linhagens maternas deste grupo já estavam presentes nos cavalos ibéricos selvagens do Neolítico Inicial, mantendo-se ao longo da Idade do Bronze e até aos nossos dias», explica Juan Luis Arsuaga, investigador do Centro Mixto da Universidad Complutense de Madrid/Instituto de Salud Carlos III (UCM-ISCIII), em Madrid.

O especialista espanhol adianta que «estes resultados sugerem a possibilidade de um episódio de domesticação completamente independente ou a utilização das linhagens maternas ibéricas num processo de reabastecimento a partir de selvagens».

Por outro lado, os cientistas descobriram em relação ao grupo D1, o grupo mais provável de tere sido domesticado na Península Ibérica, que «não encontramos seqüências do Neolítico ou da Idade do Bronze associadas com o haplogrupo ibérico mais importante, o grupo D1. Isto significa que o grupo D1 pode ser um grupo estrangeiro, que entrou na Ibéria durante alturas históricas», afirma Jaime Lira, investigador do Centro Misto da UCM-ISCIII, de Madrid.

 

CAVALO BERBERE  A raça é originária de Marrocos, na África do norte. Acredita-se que se tenha formado de cavalos selvagens sobreviventes da era glacial. Se isso for exato, o Berbere é tão antigo quanto o Árabe.

Características: o Berbere não impressiona à primeira vista: tem a garupa caída, a cauda de implantação muito baixa, e uma cabeça sem nada de especial, com formação craniana que se assemelha a dos cavalos primitivos. O perfil é reto, e o chanfro às vezes, romano. Não obstante, a resistência e o vigor do Berbere são ilimitado, indicando uma disposição à toda prova. É cavalo de excepcional agilidade, capaz de cobrir com grande velocidade distancias curtas.

Altura: cerca 1,50 m.

Cores: tordilho, castanho, alazão

Conclusão. Os cavalos na Europa tiveram o seu primórdio na Ásia e também na Península Ibérica. Segundo estudo, estes, concentravam-se na Península Ibérica devido ao relevo e a vegetação menos densa do que a restante Europa, à milhares de anos atràs. A existência dos cavalos na Península Ibérica vem de há cerca de 6.000 anos atrás. Segundo o estudo, os cavalos asiáticos e os Ibéricos terão influenciado os cavalos europeus.

É importante lembrar que quando o berbere entrou na península ibérica já encontrou uma região com uma cultura eqüestre muito grande e nos 800 anos de dominação muçulmana os árabes (bárbaros) aprenderam mais do que ensinaram. Acredita-se que foram 12 mil animais de origem berbere e ecótipos berberiscos, em sua maioria fêmeas contra uma população de 500 mil animais das raças apresentadas.

Agora que mostramos como foi formado o cavalo peninsular é importante mostrar como ocorreu a evolução deste cavalo no Brasil

A história do cavalo no Brasil está intimamente ligada a colonização brasileira. O cavalo foi introduzido primeiramente em Pernambuco, depois Bahia, São Vicente, São Paulo e pelas colônias do Prata. A Capitânia de Minas Gerais não foi das primeiras a serem colonizadas. Somente com a descoberta do ouro e depois, do diamante, é que ocorreu a grande afluência de pessoas para lá e a conseqüente necessidade de animais de sela e carga.

Do norte, vieram animais de Pernambuco e da Bahia, acompanhando gado e margeando o Rio São Francisco, então chamado 'rio dos currais'. Do sul, vinham imensas tropas de mulas e animais de sela para serem vendidos para quem tinha dinheiro, ou seja, os mineradores e contratadores do ouro.

A ocupação das terras só ocorreu por meio do sistema de sesmarias. O rio São Francisco ocupava parte das terras atribuídas à Casa da Torre de Garcia d'Ávila e à Casa da Ponte, de Antônio Guedes de Brito. Garcia d'Ávila se apoderou de suas terras em 1573: eram mais de 70 léguas entre o rio São Francisco e o rio Parnaíba no Piauí. Historiadores dizem que, residindo na Praia do Forte, próximo a Salvador, e possuindo uma Carta de Sesmaria, pois era fidalgo, o Garcia D'Ávila avançou em direção ao São Francisco, construindo em distâncias certas um curral e uma choupana, onde deixava 20 novilhas e um touro, e, para cuidar do rebanho, um casal de escravos. Tornou-se assim o primeiro latifundiário do São Francisco. O Alto São Francisco só foi colonizado a partir da descoberta do ouro, ao término do século XVII e no começo do século XVIII. Já no Baixo São Francisco, o povoamento foi dificultado pela formação de aldeamentos de escravos fugitivos dos engenhos.

Desde o início do século XVIII o desbravamento do São Francisco era completado por gente de Salvador e Recife. Para a fixação, concorreu a descoberta de ouro em Jacobina, no médio vale, junto da cabeceira de seu o afluente o rio Salitre, e pelo povoamento do Piauí, Maranhão e Ceará. Desenvolveram-se as fazendas de criação de gado.

Às margnes do Rio São Francisco surgiram as estradas, meio mais seguro de desbravamento e colonização pela segurança de acesso à água condição vital para o deslocamento das tropas. Eram chamadas de “currais” o de baixo ia para o sul em direção à Minas Gerais. Acessava-se o rio São Frasncisco através do rio Gavião e daí para as regiões das lavras. O outro “curral” o de cima ia para o norte em direção à Pernambuco. Ao longo dessas estradas os cavalos oriundos de Portugal eram deixados ou perdidos nos embates, pelo caminho. Surgindo os primeiros grupos de cavalos sendo criados sem o contato com o homem. Ora essas manadas criadas de forma selvagem, naturalmente revertem ao tipo original e "o espúrio desaparece, expulso pela inadaptabilidade" ( Ruy d’Andrade). Em aproximadamente 150 anos de liberdade o Nordeste brasileiro moldou um cavalo plenamente adaptado à região. Assim todos os defeitos foram eliminados pela mãe natureza e surge um animal forte de temperamento ativo, corajoso, de porte proporcional ao homem nordestino com a nobreza das raças que o originaram e os efeitos do meio ambiente em que vivem. Assim nasceu o cavalo Nordestino.

 

Por Luiz Miranda

Especialista em Cavalos